Rua Direita - Sé, São Paulo - SP, Brasil
O Chafariz da Misericórdia foi executado pelo construtor alforriado Tebas, e segundo Abílio Ferreira (escritor, especialista em Cidades, Planejamento Urbano e Participação Popular pela Unifesp), foi ponto de encontro dos afro-brasileiros no século 19. Escravizado até os 58 anos de idade, Tebas executou emblemáticas obras do Brasil Colonial e se consolidou como um dos maiores arquitetos brasileiros do século 18.
De acordo com a edição nº 268 do Sesc, o Chafariz, concluído em 1792, ficava em frente à Igreja da Misericórdia, no cruzamento das atuais ruas Quintino Bocaiuva, Direita e Álvares Penteado, no Centro de São Paulo. Todo talhado em pedra de cantaria e com quatro torneiras, algo que segundo historiadores era um luxo para a época, ele ficou conhecido como “Chafariz do Tebas”, equipamento que também foi o primeiro sistema público de abastecimento de água da cidade. Tebas nasceu em Santos e foi escravizado pelo português Bento de Oliveira Lima, um conhecido mestre de obras com quem teria aprendido o ofício de arquiteto. Com Lima, ele teria vindo para a cidade de São Paulo atrás de melhores oportunidades de trabalho, numa época de ebulição da construção civil.
Segundo o livro “Tebas, um negro arquiteto na São Paulo escravocrata”, foi o responsável pelo Chafariz da Misericórdia (1792), Torre da antiga Igreja da Sé (1755), ornamentos de pedra da fachada das principais igrejas paulistanas da época, como a da Ordem Terceira do Carmo (1775-1776), a do Mosteiro de São Bento (1766 e 1798), a da Ordem Terceira do Seráfico São Francisco (1783), além do enorme Cruzeiro Franciscano da cidade de Itu (1795). Construiu a torre do Recolhimento de Santa Teresa e o primeiro sistema de esgotos do antigo centro de São Paulo. Construiu o primeiro chafariz de pedra da cidade, com granito, numa época em que o granito era desconhecido. O Largo da Memória, ao lado do metrô Anhangabaú, projeto criado por Daniel Pedro Miller, foi construído por ele. O sambista Geraldo Filme pesquisou sua vida e compôs o samba-enredo “Tebas, o Príncipe Negro.” A primeira grande obra em que trabalhou foi a torre da antiga Igreja da Sé.
A imagem do artista retratada aqui é uma pintura de Portinari: “Cabeça de negro” (1934), devido à ausência de fotos do arquiteto.